Wednesday, December 9, 2009

4ª Parte



O resto da semana foi estranhamente tranquilo. Não haviam casos desesperantes para  serem resolvidos. Os que surgiram foram incompreensivelmente de fácil resolução. Apenas adolescentes a fugirem de casa dos pais para namorarem, ou idosos perdidos no tempo e no espaço.
Apenas se lembrava do que tinha acontecido no bar, pois de vez em quando Helena sorria-lhe de forma jocosa. Mas era mentira, na verdade lembrava-se todos os dias daquela mulher. Mas quem seria? E o que queria com ela? Pensou em voltar ao mesmo lugar sozinha mas achou que iria voltar para casa com algum homem acabado de conhecer e não queria isso. E também parte de si não queria voltar a ver a mesma mulher. Já tinha chatices que chegavam e não queria mais nenhuma.


Mas era óbvio que tinha curiosidade em saber mais. Só não entendia o porquê.
Ao ver Jack com cara de poucos amigos, pensou em evita-lo mas não conseguiu.
-Sam! Temos que conversar! –disse Jack em tom irritado -

-Sobre?

-Eu tenho que ir a uma reunião com o Comandante, por causa do incidente no telhado com o ex-da Susan. Quero que venhas comigo.

- Por quê? A Vivian pode ir no meu lugar.
-Vivian está ausente, foi fazer uns exames de rotina ao coração. Vamos, tenho pressa!
-Por mais que não quisesse ir, o tom enfurecido de Jack não lhe dava outra hipótese. Assim, lá se recompôs e foi a tal reunião.
Enquanto iam no carro, Jack não parava de barafustar pois não tinha autorizado nada daquilo e agora tinha que prestar contas. Sam por outro lado, apenas pensava se Ellen estaria lá também. Por instantes, desejou vê-la novamente. Queria que ela estivesse lá…e estava!
Saíram do carro e deram de caras com o grupo de operações especiais. Lá estavam todos os que tinham estado naquele dia. Mas Ellen tinha o semblante carregado e não o belo sorriso sempre presente, de todas as vezes que Sam a tinha visto. Ao trocarem um olhar, apenas se cumprimentaram com um leve abanar de cabeça.
Estavam todos exaltados. Jack deixou bem claro que não concordava com a presença do grupo de Elite na operação e que tudo poderia ter acabado em tragédia. O Tenente do grupo defendia os seus e dizia que se não fosse por eles, aí sim o dia teria terminado mal.
Sam olhava discretamente para Ellen. Agora admirava a sua beleza mas sentia nela uma tristeza. De resto, durante todos os 120 minutos que duraram a reunião, Ellen não foi chamada a abrir a boca. Permaneceu calada e de vez em quando também olhava para Sam.
Sem se aperceber qual o resultado e conclusão final da tal reunião, no final, Jack estava ainda a esbravejar com tudo e todos e Sam aproximou-se de Ellen como se uma forte atracção lhe guiasse na sua direcção. Pela primeira vez não tinha um olhar carregado.
-Posso saber a razão desse ar decepcionado?
-Pode – disse Ellen com um leve sorriso – Estamos aqui para quê exactamente? Para culparmo-nos uns aos outros? De que adianta fazermos bem o nosso trabalho para depois sermos questionados?
-Creio que no nosso trabalho, as coisas são mesmo assim. Tem sempre alguém que acha que estamos a mais ou que não fazemos o suficiente.
-Seu chefe parece pensar assim! Ele não fez outra coisa a não ser criticar o nosso trabalho. Isso me irrita profundamente. Eu sou a melhor no que faço, lutei para chegar até aqui, enfrentei a minha família e o preconceito dos meus colegas. E agora depois de tudo isso, vem alguém que não me conhece de lugar nenhum e me culpa por fazer bem o meu trabalho – Ellen mostrava-se também irritada – afinal tinha cumprido ordens de seu superior. Mas sentia-se em último lugar naquela cadeia de manda-chuvas. Sam sentiu-se mais próxima de Ellen naquele instante. Por vezes sentia o mesmo. O que já não sentia era medo de estar perto daquela mulher alta, linda e que lhe provocava  novas sensações.
- Eu sei que não é fácil. Também comigo passa-se o mesmo. Mas a nossa única preocupação deve ser fazermos o nosso trabalho bem-feito. Não temos que lidar com a mesquinhez das pessoas que não fazem nada mas mesmo assim dão as ordens. E eu acho que você fez um belo trabalho lá em cima. Graças a você, Susan e os outros reféns escaparam ilesos. Por isso, sinta-se bem com você mesma. Esqueça o resto.
Por breves segundos as duas apenas se olharam. Ellen tinha agora um largo sorriso. Jack interrompeu o momento para gritar a Sam que tinham que ir embora. Quando Sam se preparava para virar as costas á Ellen, essa agarrou-lhe na mão e perguntou:
- Queres vir jantar comigo? – Sam ficou por momentos sem palavras e enquanto Jack se dirigia apressado para o carro respondeu:
- Sim, quero…mas como?
- Não te preocupes, eu vou á tua procura! – disse Ellen com um sorriso maroto -

Monday, February 9, 2009

3ª parte



Helena estava a rir-se da cara de Sam, que subitamente ficou vermelha, embora não desse para saber se era de vergonha ou de raiva! Mais uma vez ouvia piropos daquela mulher. Tentou disfarçar mais uma vez o embaraço mas não teve jeito. Helena não iria deixar passar.


-Mas isso foi mesmo o que pareceu? Ela deu em cima de você bem na minha frente?!


-Não, imagina!! – disse Sam meio atrapalhada- Foi apenas uma brincadeira sem sentido. E não foi a primeira vez que ela fez isso! Faz de propósito- agora Sam estava irritada-


-Mas como você sabe que é de propósito? E quando foi a primeira vez que ela deu em cima de você?


-Foi no dia do assalto. Ela passou por mim quando ia para o telhado e disse: “Hi gorgeous!” Pode? Logo quando deveria estar concentrada saiu-se com esta brincadeira estúpida!


- Mas olha que ela não parecia estar brincando! E te olhou de um jeito…hum!!! – riu-se Helena mais uma vez-


-Mas isso não tem cabimento! Olha, vamos mudar de assunto que é o que fazemos melhor!


-Pronto, não te enerves! E não vale a pena ficares assim, afinal ela tem bom-gosto! Tu és uma mulher muito bonita. Não deverias estar sozinha!


-Não vamos falar disso! Olha, vamos embora que é melhor!


Aquela bela morena tinha lhe estragado a noite. Realmente tinha uma lata em vir falar-lhe no bar. E agora Helena iria comentar com toda a gente que havia uma mulher dando em cima dela? Não podia acreditar! –Raios! Mas o que ela quer comigo?- e mais uma vez os seus últimos pensamentos foram invadidos por belos cabelos negros.


O Sábado e o Domingo foram tranquilos. Sam aproveitou e limpou gavetas cheias de recordações amargas. Deitou tudo fora, limpou o apê de cima a baixo, ouviu músicas de artistas que ainda não conhecia e viu filmes que passavam na TV. Correu, manteve-se em forma e descontraiu. Coisa que já não fazia há muito tempo.


Segunda-feira chegou com outra cara. Já não resmungava tanto como nas outras segundas-feiras. E Vivian estranhou quando viu uma Sam menos resmungona.

Saturday, February 7, 2009

2ª Parte



A semana passou lentamente. Os casos surgiam todos os dias. E aquela imagem não abandonava Sam. Pensou em perguntar á Vivian quem era a atiradora. Mas nem sabia ao certo o que perguntar. Esperava que lhe caísse nas mãos todas as respostas.
No fim-de-semana, Helena estava aborrecida e a filha estava com uma amiga da escola. Convidou Sam para saírem e tomarem um copo. E lá foram as duas em busca de algum tempo livre, sem compromissos. Chegaram a um bar que não era frequentado por policiais. Já os viam todos os dias, queriam estar com pessoas normais, sem traumas, sem armas, sem chatices. Bebiam e falavam alegremente de homens, de aventuras, de partidas pregadas às suas caras-metades. Mas Sam não tinha uma cara-metade. Sentia que ela também vivera apenas metade do que poderia ter vivido com alguém. Sentiu-se novamente sozinha.
As risadas e as mágoas do passado deram lugar a uma pausa imprevista. Ao percorrer o bar com o seu olhar vazio, encontrou uma mulher de cabelos negros também a olhar para ela. Franziu a testa. Eram eles, os cabelos negros que invadiam os seus sonhos ultimamente. Helena, tinha ido buscar mais uma bebida mas tinha sido abordada por um homem grisalho. Parecia não querer falar com ele mas este não lhe deixava ir ter com Sam. Foi então que quando se apercebeu, lá estava a bela morena de cabelos negros bem a sua frente. E mais uma vez, com um sorriso largo e sem se importar com quem estava por perto, a morena lhe disse:
-Olá linda! Tudo bem?
Sam estava sem acção. Olhava em volta mas ninguém tinha notado tamanho descaramento.
E agora? O que faria? Colocaria a estranha em seu lugar? Fingiu não se lembrar dela:

-já nos conhecemos antes? – perguntou tentando disfarçar-
-Já! Nos vimos aquando daquela situação, com os reféns no telhado.
-Ah! Sim! Agora me lembro! Me chamo Samantha.
-Ellen! Prazer! –Ellen estendia a mão enquanto olhava fixamente para Sam- Apesar de alguma hesitação, Sam estendeu-lhe a mão e cumprimentou-a também. O seu rosto estava sério. Não queria parecer simpática mas ao mesmo tempo, não conseguia disfarçar alguma curiosidade em relação aquela mulher.
Neste momento, Helena voltou para junto de Sam. Olhou de forma desconfiada para as duas até que Samantha as apresentou:
-Helena, esta é Ellen. Ela foi a atiradora que matou o ex-namorado de Susan.
-Ah, prazer! Apesar de ter terminado de forma trágica foi um belo disparo! – Sam não podia acreditar no que ouvia. Estava a tentar afastar a bela desconhecida e Helena dava-lhe crédito ao falar nas suas proezas. Achava-a demasiado convencida. Não sabia por que mas era essa a impressão que tinha de Ellen.

-Obrigada! Apenas cumpri com a minha obrigação. Bem, deixo-vos sozinha agora. – Olhou para Sam e esboçou um sorriso. Esta ao aperceber-se do que vinha quase que lhe pediu com o olhar que não o dissesse. Mas não teve jeito. Ellen aproximou-se do seu rosto e sem hesitar despediu-se com um doce:
-Tchau Linda! A gente se vê por aí!

Without a Gold



Era mais um dia solitário. Sam já não sentia prazer em encontros fortuitos com homens apenas para sexo. Ela não se sentia satisfeita, completa. Nem sequer era bom enquanto durava, apenas a fazia esquecer por momentos a solidão e quando eles iam embora, ela sentia-se ainda mais sozinha dentro do vazio do seu coração.
Arrependia-se de se ter envolvido com o seu chefe e depois com Martin. Sentiu que com Jack viveu uma mentira e com Martin o magoou profundamente.
Via como as pessoas desapareciam á sua volta, algumas ainda teriam a oportunidade de voltarem á sua vida, outras desaparecerão para sempre, sem deixar rasto. Temia que com o avançar da idade também ela desaparecesse dos olhares dos outros. Passaria a ser mais um rosto perdido no meio do caos de New York.
Tinha prometida a si mesma que não convidaria mais um estranho a entrar na sua casa e resistia bravamente ao apelo já há algumas semanas. Pretendia tirar uns dias, ir visitar a sua irmã, ver o mar. Viver longe daquele trabalho extenuante, em que nem sempre o final feliz acontece. Mas quando se preparava para falar com Jack, Vivian deu o alerta: uma mulher estava desaparecida há 12 horas. Havia de novo alguém a espera de ser encontrado. Sam pensou “bem, lá terei que me encontrar mais tarde, como sempre”.
A casa estava desarrumada. Havia indícios de arrombamento, luta e sangue no chão. Um ex-namorado tinha sido visto a rondar a casa. O marido não tinha conhecimento de nada. O filho mais novo chorava e pulava do colo do pai para o da tia. Haviam perguntas a serem feitas. Nem sempre fácies de responder.
-Quando viram a Susan pela última vez?
-A que horas ela saí do emprego?
As mesmas perguntas, as mesmas respostas. Um caso antigo mal resolvido. Enquanto ouvia Vivian fazer as perguntas, Sam lembrou-se de que também ela tinha casos mal resolvidos e não queria lidar com eles. De repente, sentiu-me mais do que solidária com a mulher desaparecida. Sentiu-se também envolta em perguntas para as quais não queria saber a resposta.
Passaram-se mais duas horas e Helena deu o alerta: haviam 10 pessoas como reféns no telhado de um arranha-céus. O suspeito estava com uma arma apontada á cabeça de uma mulher. Estavam também duas crianças e uma senhora idosa entre os reféns. O assalto tinha corrido mal e o único lugar era um perigoso telhado onde as pessoas estavam em círculo e nervosas. As negociações apenas começavam mas estava claro que ele não se renderia. E ameaçava levar todos com ele.
A mulher com a arma na cabeça era Susan. A mulher desaparecida. Jack quis tomar conta do caso mas já não era nada com eles. A mulher havia sido encontrada e agora cabia a outras forças especiais cuidarem do caso. O passado do suspeito mostrava alguém que não recuaria. Que não olharia a
meios. Que não voltaria para a prisão.
Estava escurecendo. Tinham que tomar uma decisão. O helicóptero não poderia descer nos telhados vizinhos. Ele ameaçava jogar as pessoas do telhado. Apontava a arma às crianças e a Susan. Gritava-lhe que tudo aquilo era culpa dela e agora eles iriam ficar juntos para sempre.
Os responsáveis tomaram a única decisão possível. Chamaram a força especial de elite. Os melhores atiradores entrariam em acção!
20 minutos depois, todo um aparato se fez notar. Eles eram os melhores e não tinham problemas em assumirem isso. Eram arrogantes, fanfarrões mas eram bons. E tinham chegado não para salvarem ninguém. Apenas para fazer o que tinha de ser feito.
Posições delineadas, o melhor atirador para aquelas circunstâncias tinha sido escolhido. Subiria no telhado mais próximo e aguardaria o sinal. E atiraria a matar.
Jack estava aos berros. Não tinha gostado da decisão. Queria salvar Susan e temia pela sua segurança. Vivian tentava acalma-lo mas sabia que ele tinha razão. Mas não se preocupava apenas com Susan. Sabia que todos estavam em perigo.
Sam, um pouco alheia a toda aquela confusão via aproximar-se o atirador escolhido para a missão. Alto, esguio. Apenas conseguia-lhe ver o sorriso. Esse ao passar por ela, parou por breves instantes e lhe disse: “Hi Gorgeous!” Sam lançou-lhe um olhar em que dizia “Como te atreves?!? Estão pessoas a precisarem de ajuda e tu aqui com estas merdas?!” Mas não teve tempo de lhe dizer, pois o atirador seguiu em direcção ao prédio vizinho para subir ao telhado.
O calor fazia-se sentir aquela hora da tarde. Os ânimos estavam exaltados. E se ele falhasse? E se atingisse mais alguém? E se Susan não voltasse para casa?
Jack exigia o fim de tudo aquilo, queria ser ele a negociar. Queria ter o controle da situação. Até que de repente, ouviu-se o sinal. Sinal verde. O atirador tinha o alvo em mira. Espera apenas a ordem. E ela veio. Segundos depois, ouviu-se um disparo. Seco, ecoando levemente na cabeça de quem assistia a tudo. Logo em seguida veio o que todos queriam ouvir : “Suspect is down! Suspect is down!”
E uma dezena de agentes subiu ao telhado o mais depressa que podiam para retirarem as pessoas de lá. Estas chegavam ao solo assustadas, em lágrimas. No meio de tanto alívio e desespero, ouvia-se a gabarolice do grupo de elite. Graças a sua destreza, mais um bandido fora posto fora de circulação.
Aliviado mas stressado, Jack pedia explicações e queria saber quem tinha autorizado tudo aquilo. Sam estava cansada, apenas queria sair dali e ir embora. Foi quando reparou no atirador que chegava ao pé dos seus companheiros e recebia palmadas nas costas pelo bom desempenho. Lembrou-se então da sua audácia e falta de respeito para com os reféns ao galanteá-la daquela maneira. Foi então que teve uma surpresa. O atirador entregou a arma a um companheiro e ao retirar o capacete, viu-se os seus longos cabelos negros, um belo sorriso e um olhar provocante. O atirador era na verdade uma bela mulher. A única a fazer parte do grupo de elite. A melhor atiradora do grupo. Voltou-se e ao ver Sam especada a olhar para ela foi na sua direcção.
Enquanto esta fingia não estar completamente admirada, ao passar por ela disse-lhe junto ao rosto: “Bye, Gorgeous!” Sam não olhou com indignação desta vez. Parecia em transe, como se nada daquilo estivesse mesmo acontecendo.
Ainda teve tempo de ver aquela bela agente a falar com Vivian rapidamente. E lá foi com os seus companheiros, colegas, camaradas. Era um deles, sem a menor dúvida!
Mas quem era ela? E porquê dirigiu-se a ela naqueles termos em frente a toda a gente? Sam voltou a noite para a casa e subitamente, já não queria pedir uns dias ao Jack. Decidiu ficar por perto, sem saber bem o motivo. Demorou a adormecer e a última coisa em que pensou, foi naquele sorriso.